quarta-feira, 2 de março de 2011

Barbosa, o injustiçado

Na hora de escolher o melhor goleiro do campeonato, os jornalistas do Mundial de 50 votaram, por unanimidade, no brasileiro Moacir Barbosa. Barbosa era também, sem dúvida, o melhor goleiro de seu país, pernas com molas, homem sereno e seguro, que transmitia confiança à equipe, e continuou sendo o melhor até que se retirou das canchas, tempos depois, com mais de 40 anos de idade. Em tantos anos de futebol, Barbosa evitou quem sabe quantos gols, sem machucar nunca nenhum atacante. Mas naquela final de 50, o atacante uruguaio Ghiggia o tinha surpreendido com um chute certeiro da ponta direita. Barbosa, que estava adiantado, deu um salto para trás, tocou na bola e caiu. Quando se levantou, certo de que havia desviado o chute, encontrou a bola no fundo da rede. E esse foi o gol que esmagou o estádio do Maracanã e fez Uruguai campeão. Passaram-se anos e Barbosa nunca foi perdoado. Em 1993, durante as eliminatórias para o Mundial dos Estados Unidos, quis dar ânimo aos jogadores da seleção brasileira. Foi visitá-los na concentração, mas as autoridades proibiram sua entrada. Naquela época, vivia de favor na casa de uma cunhada, sem outra renda além de uma aposentadoria miserável. Barbosa comentou: “No Brasil, a pena maior por um crime é de 30 anos. Há 43 anos pago por um crime que não cometi.”

Crônica de Eduardo Galeano, extraída do livro Futebol ao sol e à sombra.



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